NO BANCO, EM TEXAS
Ultimamente, tenho
evitado ir ao banco, sobretudo para atendimento presencial, mas um dia desses,
precisei ir. Depois de um bom tempo numa fila externa, sou conduzido ao
interior do banco, e me sento em uma poltrona, imediatamente passo a observar as
demarcações tão comuns, nesse tempo de Pandemia do Covid-19.
Ao lado, havia um
senhor, já de idade, acompanhado do seu jovem filho. Eles começam a conversar,
e eu deliberadamente, observo, atentamente.
- Pai, o senhor deveria
acionar o atendimento digital do banco
- Para quê, filho,
gosto do atendimento presencial, de conversar com os muitos amigos que sempre
aqui encontro, e os funcionários sempre me atendem bem, e conversam comigo.
Do lado de fora, as pessoas
começam a se impacientar; devido ao contexto atual, o atendimento bancário
ficou muito deficiente, há um ar de medo, preocupação e ansiedade em todos,
ali. Com a demora no atendimento, o filho retoma a conversa.
- Está vendo pai, como
o atendimento está demorando? Poderíamos fazer tudo isso pelo digital e não haveria
necessidade de virmos até aqui.
- Filho, eu venho aqui
mais pela conversa e atenção dos funcionários para comigo. Eles perguntam pela
minha saúde, pela família, me oferecem um café, conversamos sobre vários assuntos,
política, causos e lembranças...
Diante do diálogo,
ponho-me a refletir sobre a riqueza de reflexões e complexidades envolvidos
nessa típica cena do cotidiano.
Ela revela a falta de
afeto, de diálogo no âmbito da família, mas também em vários contextos, como
ambientes de trabalho, relações pessoais, etc.
O atendimento comercial,
salvo várias exceções, além de precário, é desumanizado, mal atende às
necessidades do cliente.
A visão de mundo
daquele senhor, em conversa com seu filho, despertou em mim diversas reflexões e sentimentos, sobre como
estamos acostumados à banalização da vida, das pessoas e das relações.
Observei os seus
cabelos brancos, e me lembrei da poeta Cora Coralina: “O conhecimento, nós
adquirimos com os livros e a escola; o saber, aprendemos com a vida e as
pessoas mais simples e humildes”.
Finalmente, sou atendido e deixo o banco, fazia muito frio e chovia em Texas, o dia estava convidativo para ler um livro, interpretar as sutilezas da vida e do mundo.
Erivan Santana: Texas, VIII, 2021
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