quinta-feira, 5 de agosto de 2021

 



NO BANCO, EM TEXAS

 

Ultimamente, tenho evitado ir ao banco, sobretudo para atendimento presencial, mas um dia desses, precisei ir. Depois de um bom tempo numa fila externa, sou conduzido ao interior do banco, e me sento em uma poltrona, imediatamente passo a observar as demarcações tão comuns, nesse tempo de Pandemia do Covid-19.

Ao lado, havia um senhor, já de idade, acompanhado do seu jovem filho. Eles começam a conversar, e eu deliberadamente, observo, atentamente.

- Pai, o senhor deveria acionar o atendimento digital do banco

- Para quê, filho, gosto do atendimento presencial, de conversar com os muitos amigos que sempre aqui encontro, e os funcionários sempre me atendem bem, e conversam comigo.

Do lado de fora, as pessoas começam a se impacientar; devido ao contexto atual, o atendimento bancário ficou muito deficiente, há um ar de medo, preocupação e ansiedade em todos, ali. Com a demora no atendimento, o filho retoma a conversa.

- Está vendo pai, como o atendimento está demorando? Poderíamos fazer tudo isso pelo digital e não haveria necessidade de virmos até aqui.

- Filho, eu venho aqui mais pela conversa e atenção dos funcionários para comigo. Eles perguntam pela minha saúde, pela família, me oferecem um café, conversamos sobre vários assuntos, política, causos e lembranças...

Diante do diálogo, ponho-me a refletir sobre a riqueza de reflexões e complexidades envolvidos nessa típica cena do cotidiano.

Ela revela a falta de afeto, de diálogo no âmbito da família, mas também em vários contextos, como ambientes de trabalho, relações pessoais, etc.

O atendimento comercial, salvo várias exceções, além de precário, é desumanizado, mal atende às necessidades do cliente.

A visão de mundo daquele senhor, em conversa com seu filho, despertou em mim  diversas reflexões e sentimentos, sobre como estamos acostumados à banalização da vida, das pessoas e das relações.

Observei os seus cabelos brancos, e me lembrei da poeta Cora Coralina: “O conhecimento, nós adquirimos com os livros e a escola; o saber, aprendemos com a vida e as pessoas mais simples e humildes”.

Finalmente, sou atendido e deixo o banco, fazia muito frio e chovia em Texas, o dia estava convidativo para ler um livro, interpretar as sutilezas da vida e do mundo.

Erivan Santana: Texas, VIII, 2021




 

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