ACONTECEU EM MINNESOTA
Durante as manifestações que começaram a ocorrer este ano, a partir do estado de Minnesota, nos EUA, após o bárbaro assassinato de George Floyd, um vídeo viralizou na internet. A imagem de uma jovem negra, discursando em uma reunião com centenas de pessoas, me chamou a atenção, e imediatamente, procurei saber quem era. Tratava-se de Danielle Mallory, uma jovem ativista estadunidense. No vídeo, entre outras questões, ela diz: “Vocês são os saqueadores, a América saqueou o povo negro e os nativos americanos. Então, não nos fale de violência, a violência é o que vocês têm nos ensinado”. É importante mencionar que a filmagem do vídeo foi feita no calor dos acontecimentos e manifestações que se alastraram pelo país e se espalhou pelo mundo.
Muitos estavam
desencantados com a geração atual, sobretudo os remanescentes da efervescente
década de 1960. Diziam que os jovens de hoje são poucos engajados politicamente,
e sentiam saudades dos movimentos de contracultura. Mas o movimento “Black lives
matter”, em português “(Vidas negras importam), mudou esta percepção.
Impulsionado pelas possibilidades que a internet oferece, o movimento ganhou o
mundo, e colocou em pauta o tema do preconceito racial, trazendo também junto
de si, as causas feministas, LGBT e dos povos indígenas, muitas vezes, temas
negligenciados em uma sociedade movida pelas tradições do patriarcado, e pelas
relações de poder, em que prevalecem os interesses do capitalismo financeiro
internacional, com forte visão eurocêntrica e estadunidense.
Desta forma, o
movimento “Black lives matter”, leva-nos a repensar o conceito de
contracultura. Segundo Ken Goffman e Dan Joy, no seu livro “Contracultura
através dos tempos”, este não é um termo que deva ser relacionado a um
determinado tempo ou época, como costumamos fazer, quando nos referimos aos
anos 60, por exemplo. A contracultura é viva e dinâmica, e está em permanente
construção, independentemente do tempo e do espaço.
O atípico ano de
2020 está terminando (ou não), mas antes precisamos dizer e reafirmar: George
Floyd, Marielle Franco, João Alberto, presente!
Erivan Santana.
A crônica “Aconteceu em Minnesota”, ficou em 3º lugar, na 5ª edição do Prêmio
Castro Alves de Literatura 2021, da ATL (Academia Teixeirense de Letras).