domingo, 20 de outubro de 2019



TEMPOS MODERNOS


O advento da modernidade, sempre em construção, mudou o modo de vida da humanidade, com consequentes impactos sociais, ambientais e culturais. Um destes processos mais visíveis no Brasil foi o êxodo rural, a partir da segunda metade do século XX, que se acelerou consideravelmente a partir de 1950, com a industrialização do país no governo do então presidente Juscelino Kubitschek.

Ocorre que a ocupação das cidades foi feita de forma desordenada, sem qualquer planejamento, agravados com a nossa histórica e conhecida desigualdade social. Acresce-se a isto o descaso das nossas autoridades políticas com saneamento básico, transporte público e moradia – e teremos então o quadro real da situação.

Entretanto, para além destas questões, existem outros problemas e paradoxos próprios dos tempos modernos, que mereceram estudos de vários sociólogos, entre eles Georg Simmel, que analisou a qualidade e padrão de vida nas grandes metrópoles. 

Segundo ele, em meio ao stress e atribulações da vida cotidiana, o ser humano desenvolveu mecanismos de defesa a que denominou “atitude de reserva”: tornam-se indiferentes àquilo que não lhes dizem nada diretamente, a mergulhar em si mesmos, a prestar atenção apenas a seu pequeno círculo de convívio. 

Assim, é possível estar sozinho em meio à multidão, a não conhecer o vizinho, a viver no anonimato das interações, tornando praticamente impossível a solidariedade e o espírito cooperativo, elevando assim, a competitividade ao extremo. 

As pessoas passam a ser o que há de menos importante diante do consumismo, das distrações cada vez maiores, dos inúmeros apelos comerciais. No caso do Brasil, o caos urbano é agravado pela violência, o desemprego, a poluição e a ineficiência do transporte público que torna o trânsito nas grandes cidades cada vez mais insustentável.

Há outro aspecto importante da era moderna, que a ela está intrinsecamente relacionada, que é a internet. Vivemos a plena era do conhecimento, com acesso a centenas, milhares de informações que não damos conta de acompanhar. 

Na área da educação, o impacto tem sido grande. Se antes os professores orientavam os educandos nas suas pesquisas, geralmente voltados às enciclopédias, hoje, os jovens têm todas as informações de que necessitam na palma da mão. Mas será que o uso da tecnologia tem sido utilizado de forma adequada? 

Esta é a pergunta que professores, psicólogos, sociólogos e outros profissionais tem feito constantemente, até em virtude dos problemas também trazidos por esta nova realidade – que está a exigir um leitor crítico e consciente, capaz de selecionar e transformar estas informações em conhecimento. Este é o grande desafio da educação e da sociedade na era moderna.

ERIVAN SANTANA. Tempos Sombrios Instantâneos da Realidade. PerSe. São Paulo: 2019.







sábado, 5 de outubro de 2019



COMUNICAÇÃO É TUDO

Com as novas possibilidades oferecidas pelo advento da internet, temos a sensação de que o aprimoramento da comunicação humana tenha chegado ao limiar da perfeição, mas não é o que ocorre, levando-se em consideração os diversos contextos sociais, sendo a família o principal deles.
Nâo é raro constatarmos as dificuldades da comunicação moderna, mesmo dispondo de todos os recursos que temos hoje. Isto porque, no fundo, comunicar exige ouvir o próximo, conviver, fazer concessões, interargir com interesse naquilo que o outro se dispõe a dizer, e é aí que as dificuldades começam e se desenvolvem.
Na verdade, comunicação envolve convivência e paciência, que por sua vez, exige desenvolver aspectos ligados à psiquê humana, ética, gratidão e tolerância, em uma palavra, aspectos espirituais, entendo-os aqui, como não diretamente ligados às questões de cunho religioso. Estes temas são hoje, amplamente desenvolvidos pela psicanálise, psicologia e psiquiatria, ciências mais próximas a este objeto de estudo, mas que vem interessando a um número cada vez maior de pessoas.
Por isso, não é raro, mesmo estando próximas, as pessoas se comunicarem por mensagens do celular, o que em tese seria absolutamente desnecessário, isto porque, é bem mais cômodo e fácil, porque evita o contato, o olho a olho, e nos poupa de aparar as nossas arestas, que são muitas. Nas empresas, os desencontros e falhas de comunicação são constantes, pois se comunicar verdadeiramente vai além do simples fato de receber ou enviar mensagens por meios digitais, exige atenção, senso de comunicação em grupo e solidariedade ao o que o outro deseja dizer.
Portanto, como vemos, a comunicação exige um certo progresso de convivência em grupo ou mesmo nas relações interpessoais, fato que as novas tecnologias nos iludem e nos fazem esquecer, gerando uma ilusão falsa de interação útil e verdadeira.
Afinal, é no contato com o próximo que aprendemos a conviver, e a sermos levados a corrigir nosssas possíveis falhas, num sinal de humildade e responsabilidade social, muitas vezes substituídos pelo modo mais cômodo e superficial, a comunicação via redes sociais ou qualquer outro meio digital.
A comunicação na era da internet atingiu níveis tècnicos surpreendentes, falta agora investirmos no nosso crescimento como seres humanos, vivendo em sociedade, e não somente no mundo virtual, o que exige fazer concessões, desenvolver o espírito conciliador, além de nos colocar em contato com as muitas pluralidades sociais e culturais do mundo globalizado – e isto não é pouca coisa, exige muito esforço, um esforço que muitos querem evitar, usando o meio digital ou simplesmente evitando uma real comunicação com o próximo.

Crônica originalmente publicada no jornal A Tarde, Salvador, 09/10/19





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