TEMPOS MODERNOS
O
advento da modernidade, sempre em construção, mudou o modo de vida da
humanidade, com consequentes impactos sociais, ambientais e culturais. Um
destes processos mais visíveis no Brasil foi o êxodo rural, a partir da segunda
metade do século XX, que se acelerou consideravelmente a partir de 1950, com a
industrialização do país no governo do então presidente Juscelino Kubitschek.
Ocorre
que a ocupação das cidades foi feita de forma desordenada, sem qualquer
planejamento, agravados com a nossa histórica e conhecida desigualdade social.
Acresce-se a isto o descaso das nossas autoridades políticas com saneamento
básico, transporte público e moradia – e teremos então o quadro real da
situação.
Entretanto,
para além destas questões, existem outros problemas e paradoxos próprios dos
tempos modernos, que mereceram estudos de vários sociólogos, entre eles Georg
Simmel, que analisou a qualidade e padrão de vida nas grandes metrópoles.
Segundo ele, em meio ao stress e atribulações da vida cotidiana, o ser humano
desenvolveu mecanismos de defesa a que denominou “atitude de reserva”:
tornam-se indiferentes àquilo que não lhes dizem nada diretamente, a mergulhar
em si mesmos, a prestar atenção apenas a seu pequeno círculo de convívio.
Assim, é possível estar sozinho em meio à multidão, a não conhecer o vizinho, a
viver no anonimato das interações, tornando praticamente impossível a
solidariedade e o espírito cooperativo, elevando assim, a competitividade ao
extremo.
As pessoas passam a ser o que há de menos importante diante do
consumismo, das distrações cada vez maiores, dos inúmeros apelos comerciais. No
caso do Brasil, o caos urbano é agravado pela violência, o desemprego, a
poluição e a ineficiência do transporte público que torna o trânsito nas
grandes cidades cada vez mais insustentável.
Há
outro aspecto importante da era moderna, que a ela está intrinsecamente
relacionada, que é a internet. Vivemos a plena era do conhecimento, com acesso
a centenas, milhares de informações que não damos conta de acompanhar.
Na área
da educação, o impacto tem sido grande. Se antes os professores orientavam os
educandos nas suas pesquisas, geralmente voltados às enciclopédias, hoje, os
jovens têm todas as informações de que necessitam na palma da mão. Mas será que
o uso da tecnologia tem sido utilizado de forma adequada?
Esta é a pergunta que
professores, psicólogos, sociólogos e outros profissionais tem feito
constantemente, até em virtude dos problemas também trazidos por esta nova
realidade – que está a exigir um leitor crítico e consciente, capaz de
selecionar e transformar estas informações em conhecimento. Este é o grande
desafio da educação e da sociedade na era moderna.
ERIVAN SANTANA. Tempos Sombrios Instantâneos da Realidade. PerSe. São Paulo: 2019.