sexta-feira, 28 de abril de 2023

 


OS PÉS DE POEIRA

 

Corria o ano de 1992, e a cidade de Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, estava movimentada, tendo em vista as eleições municipais daquele ano, marcadas para outubro, após apenas sete anos de emancipação política de suas antigas sedes, Alcobaça e Caravelas.

Havia dois candidatos, um, popularmente conhecido como “Carcará”, era remanescente da política tradicional baiana, ainda dos antigos quadros da ARENA. O outro, embora aliado aos novos partidos políticos que surgiam, pós-redemocratização do país, era muito ligado ao MDB, e era reconhecido na cidade como representante das classes populares, assim denominados como os “Pés de poeira”. O nome teve origem nas passeatas e carreatas políticas que ocorriam na avenida Presidente Getúlio Vargas, que ainda sem asfaltamento, gerava muita poeira e lama, a depender do tempo.

Ocorre que nesse ano, estava em curso o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, mas a população se sentia coagida em não se manifestar, já que era coligado ao governador do Estado à época, Antônio Carlos Magalhães. Aconteceu também um ataque a bomba em uma emissora de rádio no centro da cidade, e para piorar a situação, ocorreu um fato lamentável e até hoje sentido pela população, que foi o desaparecimento do radialista e jornalista Ivan Rocha.

Eram tempos difíceis e amedrontadores, de intensa polarização, brigas, desentendimentos e troca de acusações, em muito lembrando a antiga “política dos coronéis”. Diante deste contexto, a juíza eleitoral à época, Drª Kátia Suely, proibiu manifestações na Av. Presidente Getúlio Vargas e a suspensão da campanha político eleitoral, desde o dia 29 de setembro.

Em despacho enviado à coligação “Frente Popular”, a magistrada fechou as três rádios da cidade, que ficaram limitadas a tocar apenas músicas e propagandas comerciais, até o dia 03 de outubro de 1992, às dezoito horas.

Finalizada a eleição, que terminou com a vitória do candidato conhecido como “Carcará”, o tio do candidato derrotado, que era deputado federal em Brasília, Uldurico Pinto, protestou, denunciando possíveis indícios de fraudes eleitorais, além do que, as rádios ficaram impedidas de noticiarem o fato inédito no país, o impeachment do então presidente da república.

Eu estava lá, eu vi!

Erivan Santana. In: “Tempos Sombrios: Instantâneos da Realidade”, 2022

 



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