VIDAS NEGRAS IMPORTAM
Entretanto, aqui no Brasil, fez-se um silêncio
incômodo, no triste episódio que vitimou João Pedro, e mais recentemente,
Miguel. Parece que a sociedade brasileira se acostumou com as perdas humanas,
num claro exemplo do que nos diz Hannah Arendt em “a banalidade do mal”. Georg Simmel,
importante sociólogo alemão, também nos fala sobre este fenômeno, que para ele,
ocorre quando determinadas sociedades se acostumam com a intensidade de notícias
e deslocamentos próprios da globalização, gerando um mecanismo de “autodefesa”,
em que o indivíduo passa a se proteger, sem se preocupar com o próximo.
No caso dos EUA e da Europa, é preciso compreender
que estas sociedades hoje, são muito plurais, tanto do ponto de vista étnico,
como cultural. A globalização oportunizou não somente a comunicação intensa
entre os povos, mas também a sua fácil locomoção, e cidades como Nova York,
Paris e Londres, provavelmente sejam claros exemplos desta pluralidade em escala
global. Visto por este ângulo, passamos a compreender melhor porque estes
movimentos acontecem com tanta intensidade nestes países, refletindo os seus
anseios por igualdade e justiça social.
Neste contexto, as ciências humanas vêm ganhando
cada vez mais importância e influência nos currículos escolares, em que a
História, a Filosofia e a Sociologia são chamadas a explicar um mundo cada vez
mais dinâmico e em construção, numa perspectiva humana, crítica e cidadã, tendo
a liberdade de imprensa um papel também imprescindível neste processo, principalmente
se for livre, ética e independente, levando-se em consideração, a influência e
a força da comunicação nos dias atuais, onde ela se faz por múltiplas
plataformas, e quando se diz “o mundo está na palma da sua mão”, é literalmente,
uma realidade. Que todas essas tecnologias possam estar a serviço da ética, da
justiça social e das vidas humanas, é o que desejamos.
ERIVAN
SANTANA.
Crônica publicada originalmente no jornal A Tarde, Salvador, 12/06/2020.