terça-feira, 24 de novembro de 2020

 

Carta a Aurélio Buarque de Holanda

Teixeira de Freitas – BA, primavera de 2020

Caro Aurélio,

 

Venho lhe pedir minhas sinceras desculpas, criador e criatura, ao esquecimento a que tens sido relegado, e isto tudo, depois da onipresença do “santo google”. São poucos os que ainda recorrem a seu imponente e competente dicionário, mas o fato é que a dúvida tirada a um simples clique, tem seduzido escritores e leitores, sobretudo, os menos exigentes.

Se bem que aquele poeta modernista desaconselha a busca ao dicionário, principalmente de palavras muito rebuscadas e sofisticadas, mas depois da nova reforma ortográfica da língua portuguesa, a necessidade do dicionário se faz presente. Afinal, essa ou aquela palavra é junto ou separado? E o acento de outras tantas, como que fica?  Quem é que guarda aquele tanto de regrinhas que os chamados doutores da língua portuguesa elaboraram, quando demarcaram o tal acordo? Muito bem nos lembra Drummond, quando começam figuras de gramática, regras e que tais, as coisas só se complicam, que venha o lirismo livre dos clowns de Shakespeare, dos loucos e bêbados, como bem disse Bandeira, e viva a poética!

Entretanto, essa submissão ao google preocupa. A dominação ideológica a partir do desenvolvimento da tecnologia, já era prevista pelos filósofos da Escola de Frankfurt, entre eles Horkheimer, Habermas e Walter Benjamin, que alertavam sobre este risco. Se observarmos bem, a internet hoje é dominada por verdadeiros impérios, como o próprio google, o facebook (que administra também o whatsapp e o instagram), o twitter e o you tube, ou seja, é muito predomínio.

Voltando ao assunto, meu caro filólogo, prometo retirá-lo do fundo da biblioteca e colocá-lo-ei mais próximo, de maneira que a saudade de folhear estas páginas imortais seja sempre despertada.

Saudações literárias das terras baianeiras, tão bem contempladas no seu vernáculo, para o bem geral da nação!

Erivan Santana



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