AS CANÇÕES QUE VOCÊS
FIZERAM PRA MIM
A feia fumaça que sobe,
escondendo o céu e as estrelas, diminuiu, e nas esquinas de São Paulo, estamos
tendo mais elegância, pois árvores, aves
e outros bichos estão aparecendo mais. O melhor mesmo a fazer, é fugir, baby,
para onde haja um tobogã, onde a gente escorregue e possamos regar flores pela
manhã, assim fica melhor. Já repararam que com esta pandemia, estamos
valorizando coisas mais simples, e nos
encontrando mais conosco e com a família? Mas não se enganem, estamos sendo
obrigados a desenvolver valores, como a empatia, tolerância e gratidão. É
lamentável, mas o ser humano é assim, somente se desenvolve espiritualmente, em
situações adversas.
Let it be (Deixe
estar), foi um dos últimos sucessos dos Beatles, uma tentativa desesperada de
Paul McCartney de unir o grupo. Não deu certo, e a separação veio, o sonho
tinha acabado. Eis que as palavras de sabedoria sempre vêm, principalmente nas
horas que mais precisamos, meus caros predestinados de Liverpool. Mas vocês
precisam saber, eu sou da América do Sul, e sou apenas um rapaz
latino-americano, sem parentes importantes, e sem dinheiro no banco.
Meu Brasil que sonha
com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu, chora a nossa
pátria mãe gentil, chora Marias e Clarisses, escrevia o agora saudoso Aldir
Blanc, em célebre interpretação de Elis Regina, um samba que se transformou
num hino contra a ditadura militar e a favor da anistia e da abertura
democrática.
Não chores mais, diz
Gil, no grande sucesso que ecoou pelo Brasil, no final dos anos 70, e que
marcou o país. É preciso ouvir esta canção, novamente, nos dias de hoje, para
que, ao pisar o chão, de manhã, a vida seja mais leve.
É tanta notícia, tanta
informação, em tempos de internet, que é impossível acompanhar tudo. Que falta
fazem o Jornal do Brasil, a Manchete, o Pasquim e o Sol. Sigamos em frente, sem
lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos, vivendo amor, por que não,
dizia o jovem tropicalista, sem saber ao certo o que a modernidade poderia nos
trazer, em uma noite de 1967.
Eu, de cá, continuarei
sentado à beira do caminho, ouvindo as canções que vocês fizeram pra mim.
ERIVAN SANTANA