domingo, 5 de março de 2023

 


MEMÓRIAS DE UM CERTO ESCRITOR

 

Era fim de tarde na cidade do Rio de Janeiro. Um senhor elegante e com passos decididos, caminha no Largo da Carioca. O acendedor de lampiões passa por ele, pronto para iniciar o seu trabalho, o bondinho de Santa Tereza cruza a estação, carregado de operários, feirantes, gente do povo, retornando para as suas casas.

O notável escritor foi até à Tabacaria Portuguesa, procurar a última edição da Revista Brasileira, onde tinha acabado de ser publicado o último capítulo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, livro que norteia e inaugura a fase consagrada do autor, e marca o início do que há de melhor em nossa literatura, o que efetivamente se consolida em seguida, com “Dom Casmurro”.

Na verdade, os livros em questão foram pouco compreendidos à época, caracterizados pela fina ironia, os duplos sentidos, a metalinguagem, o enredo escrito de modo não linear, a inovadora originalidade.

A esta altura, conhecido e admirado pela alta sociedade carioca, Machado de Assis conhecia e acompanhava a literatura europeia, e apesar das suas recentes propostas, como o determinismo social, a descrição minuciosa dos personagens e ambientes, o engajamento político - o eminente escritor brasileiro interessava-se pela crítica fina e irônica às pessoas e à sociedade, a imersão na análise sutil da psicologia dos personagens, sempre de forma a demonstrar, muitas vezes, a pequenez da condição humana.

O modernismo brasileiro muito lhe deve, já, que na verdade, foi o precursor desta definitiva literatura que ficou para a posteridade. A leitura da sua obra é sempre um exercício de conhecimento e novas descobertas, dado a grandeza e originalidade dos escritos do “Bruxo do Cosme Velho”.

Machado de Assis, de origem humilde, negro e autodidata, fundador da ABL (Academia Brasileira de Letras), é considerado o nosso maior escritor e está ao lado dos maiores nomes da literatura universal.

Erivan Santana. Tempos Sombrios: Instantâneos da Realidade, 2022.




 

 

 

 

 

 

 


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