O DIA EM QUE A TERRA
PAROU
Esta é uma das canções
mais conhecidas de Raul Seixas, o “maluco beleza”, que se dizia capaz de se
comunicar com extraterrestres, além de ter sido profundamente conectado com os
movimentos de contracultura de sua época.
Considerado o pai do
rock ‘n’ roll no Brasil, e grande cinéfilo, Raul compôs esta canção em 1977,
inspirado no filme “O dia em que a Terra parou”, de 1951, dirigido por Robert
Wise.
No filme, o personagem
Klaatu (Michael Rennie), acompanhado do robô Gort, são enviados por uma
federação de planetas para ordenar que o povo da Terra pare seus testes
nucleares. De lá para cá, o mundo não somente ampliou os armamentos de guerra,
como também aumentou a devastação do planeta, com os altos índices de consumo,
característica primordial do capitalismo global.
A letra da música prevê
o colapso do sistema, que para o sociólogo Émile Durkheim, deve ser harmonioso
entre todas as suas partes, o que evidentemente, não acontece nos dias que
correm, haja visto a desigualdade social, a violência, a degradação constante
do planeta, exaurindo-se aos poucos, para dar conta da sede de consumo da
sociedade moderna.
Os sinais são visíveis,
como a devastação ambiental, a invasão e mesmo a destruição dos biomas
naturais, o aumento da temperatura do planeta, ano após ano. E eis que de
repente, como diz na canção “O dia em que a Terra parou”, fomos obrigados a
ficarmos confinados em nossas casas, levando-nos a um encontro interior e com o
próximo, e como sempre acontece nesses casos, o homem é levado a refletir sobre
o sentido e o valor da vida, e isso não aconteceria, se dependesse da boa
vontade de todos.
A perplexidade e o medo
atingiram a todos, em escala global, com a perda de milhares de vidas
humanas. Concomitante a isso, vimos países ricos e desenvolvidos sem ter
muito o que fazer, e mais ainda, quando constatamos que a ciência e a tecnologia, em que
pese o todo o seu desenvolvimento, não tem nenhum domínio sobre a natureza.
As consequências da
pandemia do Covid-19 ainda estão em curso, mas em todo caso, a canção “O dia em
que a Terra parou”, (Raul Seixas), é um exemplo de como a arte pode intuir e
ser um retrato da vida humana, permanecendo atual, através dos tempos.
E/Santana. Tempos Sombrios: Instantâneos da Realidade, 2022.