segunda-feira, 30 de março de 2020



 

O DIA EM QUE A TERRA PAROU

 

Esta é uma das canções mais conhecidas de Raul Seixas, o “maluco beleza”, que se dizia capaz de se comunicar com extraterrestres, além de ter sido profundamente conectado com os movimentos de contracultura de sua época.

Considerado o pai do rock ‘n’ roll no Brasil, e grande cinéfilo, Raul compôs esta canção em 1977, inspirado no filme “O dia em que a Terra parou”, de 1951, dirigido por Robert Wise.

No filme, o personagem Klaatu (Michael Rennie), acompanhado do robô Gort, são enviados por uma federação de planetas para ordenar que o povo da Terra pare seus testes nucleares. De lá para cá, o mundo não somente ampliou os armamentos de guerra, como também aumentou a devastação do planeta, com os altos índices de consumo, característica primordial do capitalismo global.

A letra da música prevê o colapso do sistema, que para o sociólogo Émile Durkheim, deve ser harmonioso entre todas as suas partes, o que evidentemente, não acontece nos dias que correm, haja visto a desigualdade social, a violência, a degradação constante do planeta, exaurindo-se aos poucos, para dar conta da sede de consumo da sociedade moderna.

Os sinais são visíveis, como a devastação ambiental, a invasão e mesmo a destruição dos biomas naturais, o aumento da temperatura do planeta, ano após ano. E eis que de repente, como diz na canção “O dia em que a Terra parou”, fomos obrigados a ficarmos confinados em nossas casas, levando-nos a um encontro interior e com o próximo, e como sempre acontece nesses casos, o homem é levado a refletir sobre o sentido e o valor da vida, e isso não aconteceria, se dependesse da boa vontade de todos.

A perplexidade e o medo atingiram a todos, em escala global, com a perda de milhares de vidas humanas. Concomitante a isso, vimos países ricos e desenvolvidos sem ter muito o que fazer, e mais ainda, quando constatamos que a ciência e a tecnologia, em que pese o todo o seu desenvolvimento, não tem nenhum domínio sobre a natureza.

As consequências da pandemia do Covid-19 ainda estão em curso, mas em todo caso, a canção “O dia em que a Terra parou”, (Raul Seixas), é um exemplo de como a arte pode intuir e ser um retrato da vida humana, permanecendo atual, através dos tempos.


E/Santana. Tempos Sombrios: Instantâneos da Realidade, 2022.







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