sábado, 5 de dezembro de 2020

 


O ANO QUE NÃO TERMINARÁ

 

Pensando sobre o ano de 2020, lembrei-me de dois livros que narram a história recente do nosso país, e que são bem emblemáticos, cada um à sua maneira. Refiro-me a “Feliz 1958: o ano que não devia terminar” de Joaquim Ferreira dos Santos e “1968: o ano que não terminou” de Zuenir Ventura. 

O primeiro, como o título já insinua, é uma celebração da felicidade, o Brasil acabava de ganhar o seu primeiro título mundial de futebol, revelando um garoto de 17 anos, que viria a ser considerado o rei do futebol, Pelé. Vivia-se a era do romantismo e da inocência no país, com o surgimento da bossa nova, e o esplendor e beleza de Martha Rocha, com Copacabana sendo capa de revistas e jornais, país afora. O segundo, relata as tristes memórias e consequências do regime de exceção, que de acordo com os historiadores, vai de 1964 a 1985.

Segundo Evanildo Bechara, em sua “Moderna gramática portuguesa”, o futuro, como tempo verbal, se divide em dois. O futuro do presente aponta o Norte: diz respeito ao que se deseja realizar, construir, experimentar. O futuro do pretérito trata do não efetivado. Este ano traz em si, estas duas características. Foi um tempo de sonhos e projetos adiados; e também de improvisos, surpresas, e perdas inesperadas, vidas interrompidas, existências abreviadas.

A pandemia do Covid-19 trouxe à tona realidades que estavam esquecidas ou encobertas, em todo o mundo. Mostrou que o homem, diante do desenvolvimento científico e tecnológico a que chegou, não tem nenhum domínio sobre a natureza. Deixou claro a falta de sensibilidade para com o próximo, pois mesmo em países ricos, os sistemas de saúde de amparo à população se mostraram ineficientes, dependendo de mais atenção e investimentos. Neste particular, é louvável a existência e atuação do SUS no Brasil, que mesmo diante da falta de verbas e melhorias na sua infraestrutura, foi e tem sido a salvação de centenas, milhares de brasileiros.

Outras questões também ficaram muito visíveis, como a inviabilidade do pensamento de Estado mínimo, defendido pelo capitalismo neoliberal, simpáticos da escola de Hayek e do Consenso de Washington. Existem áreas, como saúde, educação e segurança, em que é necessária a presença forte e permanente do Estado, sob pena do comprometimento da já frágil estrutura social do país.

O presente e o futuro estão sempre em construção, e certamente a história elegerá 2020 como o “ano que não terminará”.

Erivan Santana



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