PRO DIA NASCER FELIZ
Ela chegou apressada, quase atropelou um cachorro que atravessava a rua. Entrou no banco, foi ao caixa e saiu. Ficou procurando o carro, mas não encontrava. Tinha jurado que o tinha estacionado ali, perto do meio fio. Um rapaz, daqueles que ficam guardando vagas de carros, percebeu e veio ajudá-la.
- A Sra. é professora?
- Sou, por quê?
Ele respondeu,
apontando para os livros que ela carregava. Tinha esquecido de deixá-los no carro.
Saíram procurando, ela o tinha deixado mais distante, na outra esquina, o rapaz
ajudou a encontrar. Ela deu-lhe uma gorjeta e entrou no carro. Olhou no retrovisor,
estava com o cabelo todo desarrumado, o óculos fora do lugar. Deu uma arrumada
no cabelo com a ponta dos dedos, ajeitou os óculos, ligou o carro e deu a
partida.
Começou a pensar na
manhã difícil que teve. Viu-se obrigada a separar uma briga na 6ª série C, que tinha
50 alunos, e na 5ª série A, também com 50 alunos, não conseguiu explicar o
assunto, tamanha a inquietação dos alunos. Já pediu à diretora para separar as
turmas, mas o sistema não permite, o prefeito alega que não pode ter salas com
poucos alunos. Quem dá aulas para turmas de 5ª e 6ª séries do fundamental, faz
qualquer coisa na vida, pensou.
Além disso, a situação
financeira apertava, 5 anos sem reajuste, já. Os do andar de cima tem auxílio
paletó, auxílio café, auxílio isso e aquilo, e o professor, tem auxílio de quê?
Semana passada esteve no psicanalista.
- O que a Sra. tem?
- Nada, Dr., só queria
estar aqui, descansar um pouco, quando chego da escola, ainda tenho outra
jornada em casa.
Na quinta-feira, ao
chegar da escola à noite, Raquel mal conseguiu tomar banho e comer alguma
coisa. Foi logo dormir, de tão cansada que estava. Amanhã será outro dia na Escola
Municipal Florestan Fernandes.
Erivan Santana
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