AULA DE SÁBADO
Era um sábado à tarde e
tínhamos aula. Embora estivéssemos receosos, ainda em plena pandemia do
Covid-19, o retorno à escola nos faziam bem. Quem é do chão da escola, sente
falta deste convívio. Pouco a pouco, a rotina era retomada, as lembranças iam
surgindo, de tantas realizações e experiências ali vividas.
O dia a dia de uma
escola é um mundo, que apesar de estar à parte, está perfeitamente integrado à
sociedade, e com ela, dialogando constantemente.
Entrei na sala,
cumprimentei a turma e iniciei o assunto, que versava sobre “As várias áreas de
estudo da filosofia”. Subitamente, observei que uma aluna estava totalmente
alheia a tudo ao seu redor, totalmente concentrada em desenhar. Havia vários
desenhos na folha do seu caderno, e ela agora colocou a mão na face, naquela
posição clássica de “pensadora”, o que aliás, combinava bem com a aula de
filosofia.
Resolvi não lhe chamar a
atenção para a atividade que acabara de passar para a turma. Lá pelas tantas,
ela finalmente olhou para mim e para o quadro. Fez a atividade proposta e
retornou para o seu desenho.
Eu apenas observava, e
fiquei pensando, o que a levava àquele ímpeto de desenhar. Certamente, as
pessoas já nascem com certos dons e talentos, que precisam serem apenas
desenvolvidos e aprimorados.
É uma pena que a
escola, muitas vezes preocupada em cumprir o currículo, não oportunize aos
alunos a possibilidade do desenvolvimento de seus muitos dons e talentos.
Agora mesmo, com as olimpíadas,
ficou claro a falta de apoio dos nossos governantes aos atletas brasileiros. A
maioria deles, como Rebeca Andrade ou Ítalo Ferreira, venceram e conquistaram
medalhas, graças a seus esforços, talentos e iniciativas individuais. Em países
desenvolvidos, o esporte, à iniciação às artes e à literatura são políticas
públicas de Estado, integradas ao currículo.
O filme “Encontrando
Forrester”, um triunfo na carreira cinematográfica de Sean Connery, ilustra bem
este contexto. Nele, um jovem talentoso, vindo da periferia do Bronx, precisava
ter bom comportamento e boas notas, para ter acesso aos torneios de basquete,
que tudo somado, poderiam lhe abrir as portas a uma boa e conceituada
universidade.
O sinal tocou para o
segundo horário, eu precisei mudar de sala. Hoje, eu me lembrei que o professor
é aquele que ensina, mas que também aprende. A nossa escola pública está cheia
de talentos, que possam ver aqueles que tenham a sensibilidade e o interesse
para ver.
Erivan Santana,
21VIII2021
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