AULAS ON LINE
Acordei em cima da hora
para a aula on line, jogo água no rosto às pressas e ligo o computador. Vou no
gmail e envio o link da aula para os alunos. Me assusto com esse google meet,
isso tudo é muito novo para mim, assim como também para os alunos. Um a um,
eles vão chegando na sala, e os comentários aparecem às dezenas na tela. Fico
procurando onde é o chat, finalmente achei, sinto-me meio perdido nesse
ambiente. Pergunto se o som está chegando bem, alguns respondem que sim.
Com os grandes números
de comentários no chat, ponho-me a observar a força da escrita, mesmo em um
ambiente como este. Observo também a dinâmica histórica da língua portuguesa.
Os comentários contém palavras muito abreviadas, gírias e normalmente, são bem
humorados. Na verdade, há um choque de gerações aqui, diante de tantas transgressões
ao que se pode dizer “norma culta e padrão da língua portuguesa”, embora se
necessite levar em consideração o contexto do ambiente virtual.
A aula começa, a
discussão gira em torno de um texto em que se aborda a pandemia do Covid-19 e
suas consequências a nível planetário. Um aluno aparece com um papagaio de
estimação na tela, outro com um cachorrinho. Risadas geral no ambiente, tudo
trava, demora um pouco, mas consigo trazer a discussão do texto de volta, à
aula.
Depois de um tempo, não
sei como, alguém insere no debate o porte de armas. Um aluno, mais exaltado,
defende o porte de armas a toda à população. Procuro contemporizar, dizendo que
cada caso é um caso, e que na verdade, o que o povo precisa é de educação,
saúde, saneamento básico, emprego e renda. Uma aluna entra na conversa e lembra
os constantes casos de atentados com o uso de arma de fogo nos EUA, me ajudando
no meu argumento, ufa!
Imediatamente,
compreendo que uma sala de aula, mesmo no ambiente virtual, é um reflexo da
sociedade, um microcosmo de uma determinada realidade. Em que pese a polarização
presente durante a aula, refletindo a sociedade e o momento político em que
passa o país, senti uma certa insegurança dos alunos em seus argumentos, como
se desejassem encontrar respostas aos seus medos e anseios.
Consigo terminar bem a
aula, em meio a uma conversa amistosa, buscando o entendimento, em meio a
tantas realidades, visões de mundo e histórias de vida ali presentes. Como dizia
Vygotsky, educar é um ato social.
Quando termino a aula,
e olho o celular, há dezenas de mensagens de alunos querendo tirar dúvidas,
duas reuniões agendadas para o mesmo horário, tendo ainda mais duas aulas on
line pela frente... E agora, o que fazer primeiro?!
Erivan Santana.
Teixeira de Freitas, abril de 2021.
Muito bom, como esse texto reflete nossa realidade.
ResponderExcluirObgdo pela atenção da leitura, um abç!
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